terça-feira, 1 de maio de 2012

REVOLUTIONARY ROAD: O PESADELO DO SONHO AMERICANO



Um filme perturbante que retrata a américa dos anos 50 através da vida de Frank e April Wheeler, baseado no livro com o mesmo título de Richard Yates. Em 1955 o casal Wheeler vive o sonho americano tal qual é publicitado pela indústria de electrodomésticos norte americana:  April é dona de casa  e mãe de dois filhos pequenos, habitando com Frank uma linda casa nos subúrbios em Connecticut. Frank trabalha no escritório de uma empresa em Nova York, para onde viaja todos os dias de comboio, a par de centenas de homens vestidos de igual que enchem diariamente o comboio e as estações. Aos olhos da comunidade os Wheeler são o casal perfeito: bonitos, jovens e talhados para o sucesso. Contudo, o sentimento deste casal não é o de felicidade. Frank arrasta-se no seu emprego, quebrando ocasionalmente a monotonia com a sedução de uma colega de escritório. April, após ter falhado numa carreira enquanto atriz sente-se presa a uma vida estereotipada e sem surpresas numa gaiola dourada. É April quem primeiro verbaliza a insatisfação que a consome sugerindo ao marido uma vida de aventura rumo a Paris, onde April seria o ganha pão do casal como secretária ao serviço de uma organização internacional, permitindo a Frank ter tempo disponível para descobrir a sua vocação. Gradualmente a ideia ganha a concordância e o entusiasmo de Frank e o casal decide contar aos amigos mais próximos o plano de mudança de continente. A partir desse momento tudo se precipita.
Curioso é o processo mental algo dessincronizado dos Wheeler e dos restantes amigos do casal. Os primeiros espelhando a felicidade e a liberdade de quem está prestes a deixar para trás uma vida cinzenta e sem brilho, os segundos, inicialmente cépticos, experimentando um sentimento de superioridade por valorizarem, ao contrário dos Wheeler, as coisas que crêem ser mais importantes na vida, como a segurança e estabilidade. Progressivamente são os amigos dos Wheeler que começam a sentir a claustrofobia do sonho americano experimentando a ansiedade e a dúvida de estarem provavelmente a viver uma ilusão pior que a dos Wheeler. Nesta fase é Frank Wheeler quem começa a racionalizar e a temer todas as dificuldades da mudança. Frank encontra a desculpa perfeita para a não concretização dos planos de mudança, na promoção que lhe é oferecida  no emprego e na gravidez não planeada de April. April, por seu lado, sem coragem ela própria para levar adiante o plano sozinha, culpa Frank pela aniquilação dos seus sonhos. Segue-se a tragédia.
Para mim o mais perturbante neste filme foi ver retratado um sentimento comum à maioria dos ocidentais, aquele de que se é especial e de que se foi destinado a uma vida mais excitante e significativa do que aquela que se acaba por viver. Mais perturbante ainda foi  ver retratado o processo de racionalização e de desculpas, sobretudo a si próprio, que a maturidade traz consigo, facilitando a aceitação da gradual redução de horizontes e da não realização dos sonhos.

CSL

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